30/04/2007

Ensaio sobre um lugar-comum: “Nenhum homem é uma ilha isolada”

Olhamos à distância e a nitidez perde-se. Somos o vigia que, com um binóculo, perscruta o infinito. Esforçamos a vista, preocupados com o que vem e esquecemos onde estamos, o chão que pisamos e aqueles que nos acompanham na nossa viagem. Um irmão com quem brincávamos ao fim da tarde e que se perdeu na memória que resta da distância de meio país. Um amigo que se rendeu a uma vida de cinismo por aspirar à grandeza sufocado na mesquinhez de uma aldeia. Uma mulher que não se tem em mais nada do que na estúpida incerteza de um sentimento. No fim somos só nós, sozinhos numa corrida que chegou ao fim, mas que não queremos vencer, no momento em que compreendemos que não há mais nada, que tudo se resume à eventualidade de uma coincidência e que a morte é o vazio, mas até lá ainda há uma grande caminhada, muita terra e lama para pisar, vinho para beber e corpos para amar. No fim somos só nós, mas até lá ainda há uma caminhada.

(João Freire)

2 comentários:

Anónimo disse...

Passei por aqui a correr e pensei...tenho de voltar, isto vale a pena! O que não consigo perceber é como é que alguém consegue passar por aqui, mesmo a correr, e não deixar um comentário.
Excelente. Parabéns!
C.Q.

Johnny disse...

Obrigado.O teu comentário é tão bom que, ele próprio, merece um comentário! Vê-se logo que és uma pessoa de grande sensibilidade.