03/06/2007

Pronto, se calhar ainda não esqueci, mas garanto-te que acabou.

Já esqueci. Quase, pelo menos. É difícil dizê-lo porque é difícil senti-lo. De certeza que por fora se consegue ver como é difícil. Di-lo comigo. Es-que-ci-Te. Mais do que eu, és tu que queres ouvi-lo. Tu queres que eu seja feliz, não queres?
- Quero que sejas feliz.
E queres. Eu sei.
- Eu quero, tu sabes!
Lá por casa está tudo igual… O gato, o cão… aquele banco de pedra, virado para a serra, onde costumavas sentar-te a vê-los lutar.
Tento ser adulto. Ver o que aprendi, recordar as coisas boas… Sabes que há sempre coisas que ficam… pequenos momentos. O último que recordo é aquele após o banho, quando vinhas, ainda a pingar, até ao quarto com o robe cor-de-rosa e depois o tiravas e me abraçavas, tremendo de frio, com os braços á frente, apertados no meu peito. Depois os cremes, as cuequinhas, as meias coloridas, o soutien sem alças, as calças de ganga e uma camisola.
Lá fora o gato eriçado, o cão (idiota como os cães) a rodopiar á sua volta em saltos de gazela e o teu sorriso a vê-los, sentada no banco de pedra.
Pronto, se calhar ainda não esqueci, mas garanto-te que acabou.

(João Freire)

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