31/10/2007

Palavras


A Martha Isabel Moia

En esta noche en este mundo
las palabras del sueño de la infancia de la muerta
nunca es eso lo que uno quiere decir
la lengua natal castra
la lengua es un órgano de conocimiento
del fracaso de todo poema
castrado por su propia lengua
que es el órgano de la re-creación
del re-conocimiento
pero no el de la re-surrección
de algo a modo de negación
de mi horizonte de maldoror con su perro
y nada es promesa
entre lo decible
que equivale a mentir
(todo lo que se puede decir es mentira)
el resto es silencio
sólo que el silencio no existe
no
las palabras
no hacen el amor
hacen la ausencia
si digo agua ¿beberé?
si digo pan ¿comeré?
en esta noche en este mundo
extraordinario silencio el de esta noche
lo que pasa con el alma es que no se ve
lo que pasa con la mente es que no se ve
lo que pasa con el espíritu es que no se ve

¿de dónde viene esta conspiración de invisibilidades?
ninguna palabra es visible



(Tradução)



Para Martha Isabel Moia

Nesta noite neste mundo
as palavras do sonho da infância da morta
nunca é isso o que queremos dizer
a língua natal castra
a língua é um órgão de conhecimento
do fracasso de todo o poema
castrado pela sua própria língua
que é o órgão da re-criação
do re-conhecimento
mas não é o da re-surreição
de algo parecido com negação
do meu horizonte de maldoror com o seu cão
e nada é promessa
entre o dizível
que equivale a mentir
(todo o que se pode dizer é mentira)
o resto é silêncio
só que o silêncio não existe
não
as palavras
não fazem o amor
fazem a ausência
se digo água, beberei?
se digo pão, comerei?
nesta noite neste mundo
extraordinario silêncio o desta noite
o que se passa com a alma é que não se vê
o que se passa com a mente é que não se vê
o que se passa com o espírito é que não se vê

de onde vem esta conspiração de invisibilidades?
nenhuma palavra é visível


Alejandra Pizarnik
De «Textos de sombra y últimos poemas» (1971-1972 )

3 comentários:

ipsis verbis disse...

Para Martha Isabel Moia

Nesta noite neste mundo
as palavras do sonho da infância da
morta
nunca é isso o que queremos dizer
a língua natal castra
a língua é um órgão de conhecimento
do fracasso de todo o poema
castrado por sua própria língua
que é o órgão da re-criação
do re-conhecimento
mas não é o da re-surreição
de algo parecido com negação
do meu horizonte de maldoror com o seu cão
e nada é promessa
entre o dizível
que equivale a mentir
(todo o que se pode dizer é mentira)
o resto é silêncio
só que o silêncio não existe
não
as palavras
não fazem o amor
fazem a ausência
se digo água, beberei?
se digo pão, comerei?
nesta noite neste mundo
extraordinario silêncio o desta noite
o que se passa com a alma é que não se vê
o que se passa com a mente é que não se vê
o que se passa com o espírito é que não se vê
de onde vem esta conspiração de invisibilidades?
nenhuma palavra é visível

Johnny disse...

Não sei de onde vem a conspiração, mas também está visível aqui. Colocando a tradução na invisibilidade dos comentários só estás a ajudar os conspiradores. Fica melhor como post. Penso.

ipsis verbis disse...

Também não sei de onde vem a conspiração. E não me apetece fazer parte dos conspiradores...
Já postei mas, escrever aqui ou ali é igual pois "nenhuma palavra é visível"