11/12/2007

Diluição

A falta de sentido anula a existência mais bela do ser, sem sentido não há nada que permaneça, reformulando-se a existência na uniformidade do nada. Caminhamos para o deserto, para o inóspito, o mundo está a diluir-se nele próprio, de um planeta azul a um castanho claro, e com ele as pessoas. Os nossos problemas são os de toda a gente, nem mais nem menos importantes: os mesmos. E são também os do Mundo, mas nós não nos apercebemos disso. Em nós mesmos vivemos, em nós, para nós, só nós, num solilóquio divino, quase risível. Somos o centro de tudo, nós e o Mundo, mas seremos? Pensamos, trabalhamos, procuramos, ganhamos e perdemos, enfim vivemos, mas pouco mais. Dançamos pelo universo, numa coreografia de rotação e translação, que não nos aproxima nem nos afasta dos outros corpos, quentes ou frios. Mas então qual o sentido? De que vale a vida, a felicidade, o amor, de que vale um beijo se a pele enruga, envelhece e morre? A medida da vida está na memória que temos dela, dos bons momentos, das coisas boas que nos fizeram sorrir e das pessoas com quem partilhámos tudo. Claro que a vida é melhor quando partilhada, tudo é melhor quando nos afasta de nós mesmos e da diluição. O sentido é para fora, é dar e receber, é sentir. De que vale um beijo quando a pele enruga, envelhece e morre? Um beijo vale porque a pele enruga, envelhece e morre. E vale muito.

(João Freire)

Participação no tema "Velhice" da "Fábrica de Letras"

15 comentários:

martagarcia disse...

um beijo...aquele que nos lembra que, afinal, o "nós" é bem melhor do que o "eu".

O "nós" que não é um "tu e eu" mas o "nós" que somos todos...


Que o dito Natal tenha sido algo mais do que isso.
*

Johnny disse...

Obrigado pelo beijo. Já agora respondo-te a ele com um outro, que te faça sentir o mesmo.

martagarcia disse...

thank you...*

Su m disse...

"A medida da vida está na memória que temos dela, dos bons momentos, das coisas boas que nos fizeram sorrir e das pessoas com quem partilhámos tudo"

Nem mais nem menos. E é isso que permitirá abandonarmos esta vida de forma pacifica e calma...

Adorei!

Brown Eyes disse...

Qual o valor de uma vida? Um vida tem valor nos conhecimentos que transmite, nas modificações que faz, nas influênias que deixa. johnny "E vale muito esta tua participação" pela reflexão que deixas. Beijinhos

Johnny disse...

Su, abandonar a vida de forma pacífica e calma? Só se fores tu, que eu estou a pensar fazer um reboliço enorme... pontapés, tiros e tudo! Ainda bem que gostaste (não sei se posso tratar por tu, visto que é a primeira vez, mas assumo essa liberdade)

Mais um obrigado, Mary. Não acho que valha muito em termos absolutos, mas sempre vai valendo para quem a vive e para as pessoas à volta dessa vida. VIVAMOS!

Olga Mendes disse...

Gostei muito.

Johnny disse...

Obrigado, Olga.

Sandra disse...

Cada um de nós traz um pouco dessa sabedoria de vida..
Me inscrevi e estou participando.
http://sandrarandrade7.blogspot.com/
Venha e conferi o meu texto sobre a velhice.
Nossa grande alegria é chegar lá, com muita sabedoria.
Um grande abraço
Sandra

meldevespas disse...

É mesmo muito melhor esta nossa vida partilhada e claro com muitos beijos e abraços, porque a pela envelhece e enruga inevitavelmente e é isso que no fim nos vai valer, a proximidade e o toque de alguém.
Beijinho

Johnny disse...

Obrigado pela visita, Sandra. Concordo.

Exacto, mel, não há nada como estar ao lado de quem gostamos.

Lala disse...

Vale muito. E vale tudo. Não dás um beijo porque "sim". Dás um beijos porque amas... ainda que a pele enrugue, envelheça e morra... o Beijo fica... Faz parte da eternidade!

Beijinho*

Johnny disse...

Os beijos não ficam, Lala, quero crer que desaparecem rapidamente e é preciso estar sempre a subsitui-los :) e esta, hein?

Lala disse...

Hum... acho que não concordo. O beijo fica sim. Não substituis um beijo, porque cada um é diferente e insubstituível... nós, sim, somos insaciáveis!:*

Beijinho*

Johnny disse...

Acho que a minha versão tem mais romantismo e a tua pragmatismo... os papéis entre homens e mulheres habitualmente definidos pela sociedade inverteram-se aqui entre nós, penso.