19/03/2008

E se o futuro for uma mistura de Mad Max com Waterworld?

Para quem não se lembra, o filme Mad Max - e suas sequelas - retrata uma sociedade futura, que atravessara uma explosão social causada sobretudo pela falta de petróleo. Tal explosão social, despoletara, entre outros, problemas de ordem civil, que uma polícia diminuta e mal preparada não conseguia controlar, conflitos de escala global de nível nuclear, e a desagregação da população em pequenos grupos sociais com líderes e meios de subsistência próprios em constante luta com outros grupos, principalmente grupos de criminosos que pretendiam obter o controlo da maior quantidade de recursos.

Quanto ao segundo filme, retrata apenas um mundo num futuro próximo ou distante, no qual os calotes polares derreteram e está coberto de água, havendo rumores de que existe terra, mas não se sabendo ao certo se de facto ela ainda existirá.

As sociedades actuais caminham para um futuro cada vez menos auspicioso. Se a globalização contribuiu em larga escala para o aumento do nível médio de vida da população global, também contribui para o impacto global das crises que aqui e ali se vão gerando. Os conflitos armados que grassam em todo o lado são a principal preocupação. Morte, fome, doenças, um sem número de desalojados e refugiados, são apenas algumas das crises humanitárias que impera resolver, mas que são causadas a montante. A maior parte dos conflitos são causados por questões de poder, associadas à luta pelos recursos ou pelo poder em si. Cada um de nós tem de olhar à volta e ver o que pode fazer. Em Portugal, por exemplo, manifesta-se pouco. Houve há pouco um exemplo de uma manifestação poderosa, a dos professores, que, quer o Governo queira, quer não, serviu, mais que não seja, para diminuir a arrogância das reformas cegas, surdas, mudas e autistas. Na saúde também se vai manifestando, mas são situações locais, com pouca ou nenhuma visibilidade. Mas e o pão? E o Gasóleo? E tudo o resto que aflige o pequeno cidadão que não pertence a nenhuma corporação. O problema dos cidadãos portugueses é o de não terem grandes aparelhos políticos e sindicais que os consigam mobilizar no sentido de demonstrarem o que pensam e as suas razões de desacordo. O problema do aumento do preço do petróleo não é, essencialmente e por enquanto, um problema de redução dos níveis de produção ou de descoberta de novas jazidas, mas de pura e simples especulação. Adam smith apontava duas leis essenciais mercado: o interesse pessoal, na medida em que, por exemplo, o homem do talho não dá nada por bondade, e a concorrência, que impede a crueldade na estipulação do preço. Por esta lógica, podemos imaginar pela falta de concorrência que é a crueldade que está a definir o aumento dos preços do petróleo, que é, apesar de tudo, um produto essencial nas nossas sociedades. Quanto à produção dos cereais, foi abandonada em todo o mundo por não dar lucro, por haver excesso de produção e agora, que já não há excesso, mas falta, não há ninguém disposto a produzir? Dizem até que o aumento do preço dos cereais se deve à venda dos mesmos para a produção de bio-diesel. Parece que nos querem dizer que não dá para termos pão barato e combustível barato ao mesmo tempo. Ou uma coisa ou outra, dizem, forçando-nos à escolha. Entretanto, a tecnologia dos carros eléctricos, solares, a hidrogénio ou a água, vai ficando para trás, escondendo-se patentes à custa de muito dinheiro, reduzindo apoios monetários à sua investigação, até que a bolha pare de encher, até dar dinheiro e poder para alguns. Não é em Portugal que se resolve o problema – ao que parece, Portugal nem tem condições climatéricas para produzir cereais e nem terá muito petróleo –, mas só podemos agir à dimensão do nosso espaço, procurando motivar quem nos rodeia, fazendo com que nos ouçam o mais longe possível. Um dia ainda gostava de participar numa manifestação, talvez uma daquelas reuniões instantâneas, que usam as mensagens escritas para convocar as pessoas, talvez em Lisboa, uma manifestação onde todos pudéssemos fazer ouvir as nossas queixas. Cada pessoa levaria um cartaz e nele a sua queixa. Já estou a ver quinhentas mil pessoas no Terreiro do Paço a exigirem tudo o que lhes viesse à cabeça. Depois uma reunião com dirigentes políticos, uma até com o Primeiro-Ministro, uma reunião séria, onde se falasse de forma séria, e depois acordos e compromissos de ambas as partes e propostas e entreajuda e donativos e trabalho voluntariado e apoio aos cientistas e aos artistas e às pessoas que mais precisam… ou, como costumavam dizer antigamente, quando de referiam à democracia mais pura, à directa, Democracia.



Democracia – Do grego demokratia (demos = povo + Kratiae = poder)

Mad Max (1979) – Realizado por George Miller

Waterworld (1995) – Realizado por Kevin Reynolds

(João Freire)

Sem comentários: