26/03/2008

Mudança de paradigma - A evolução do beijo

Ao longo dos tempos o homem foi evoluindo num sentido absolutamente superior à mulher. As actividades a que se dedicavam, as suas diferenças sexuais congénitas acentuaram uma situação que terá atingido o seu limite no século XIX. O homem caçador-recolector, a mulher mãe e dona-de-casa, foram ao longo dos séculos os mastros da maior parte das sociedades. A própria forma de agir e pensar estava compartimentada há muito e definiu biologicamente diferenças que se cristalizaram ao longo de todo esse tempo. Isto são factos. Mas a partir daí, desse século XIX, algumas mudanças começaram a inverter o sentido dessa caminhada e hoje, apenas um século e uns pozinhos depois (por oposição a uma situação que demorara dezenas de séculos a atingir-se), começou a desenvolver-se um novo paradigma, um que ameaça agora as sociedades dominadas pelos homens, mais propriamente os homens que nelas se inserem.
O grito do Ipiranga dado pelas feministas nos fins do século XIX, e que perdura ainda, pode ter começado com a defesa de uma igualdade entre géneros, mas basta olhar para o que se passa no mundo actual para ver que o que está a acontecer, mesmo que ninguém o pretenda de forma consciente, é a substituição de domínio! Ou seja, é clara a minha convicção de que as sociedades dominadas pelo homem não estão a caminhar para uma igualdade entre os géneros, mas sim para a substituição do domínio dos homens pelo domínio das mulheres.
As mulheres são de forma generalizada melhores do que os homens na maioria das actividades humanas e se houve algum domínio masculino isso deve-se ao papel que o homem desempenhou como garante da subsistência da família, mas esse papel, num nível cosmológico, durará pouquíssimo mais, chegando a um ponto em que tal garante não dependerá da força física, o que leva o homem a tornar-se cada vez mais obsoleto. Basta olharmos para a fisiologia das mulheres para vermos que o cérebro delas está melhor preparado do que o nosso para pensar. Sim, o cérebro da mulher é mais eficaz para raciocinar, porque, simplesmente, as ligações entre os dois hemisférios são mais eficazes na mulher do que no homem. São diferenças que foram desenvolvidas ao longo da evolução, mas que, em última análise, melhoraram muito mais as mulheres do que os homens. Isto também é um facto. Os resultados estão aí: mais de 60% dos universitários de todo o Mundo são do sexo feminino.
As mulheres, à custa de muito trabalho da parte delas, conseguiram colocar-se à beira do pódio do mundo, prestes a dominar todas as áreas da vida em sociedade e o que é certo é que não visam apenas a igualdade, e mesmo a brincar vão dizendo que tudo seria melhor se as mulheres mandassem, e esse  domínio aproxima-se inexoravelmente. Se será melhor ou não é impossível dizer, mas que vai acontecer vai. E é fácil constatarmos esta inversão dos papéis, bastando para isso olhar a arte, a montra do sentir da humanidade.  
De facto, a representação das mulheres na arte, seja na música, no cinema, na pintura ou em qualquer outra forma cultural, já não é - nem devia ser - a epítome de uma mulher submissa, mulher sentimento e emoção, a mulher conquistada, arrebatada, enfim, fraca, mas também não é o da mulher como igual, antes tudo o inverso, cabendo agora ao homem o papel deixado vago pela mulher, pois ele já não conquista mas é conquistado, pelo menos mais activamente, na medida em que elas começam a ter um papel preponderante na aproximação.
Um exercício fácil de fazer é traçar uma linha entre o olhar do homem e o da mulher nas cenas de beijos retratadas nas mais variadas formas de arte, como as que ilustram este texto. Fazendo esse exercício vemos que a linha vai passando de um sentido descendente (o homem olha a mulher de cima para baixo) para um certo nivelamento e até uma inversão dessa mesma linha. Isto denotará uma mudança  na imagem social do amor.
Sendo assim, uma vez que já não é o garante da subsistência, o homem aproxima-se inexoravelmente da não existência, do homem que é apenas aceite, o homem objectificado, e que ao contrário da mulher não detém, no seu posto mais fraco, nenhum poder, pois a mulher, mesmo quando se encontrava numa posição inferior no ranking dos géneros, sempre se soube valer de “pérfidos” sistemas para ir aqui e ali dominando algumas áreas da existência humana, estratégia que os homens, por limitações várias e também por estarem ainda numa fase de habituação a esse papel secundário, não conseguem imitar, mostrando-se nitidamente afectados pela sua desvalorização ao mesmo tempo que denotam estranheza na sua situação.
Urge perguntar sobre qual o papel que é esperado dos homens nas sociedades actuais? Que sejam providenciadores, que sejam independentes? Eu acho que ninguém sabe, acho mesmo que as mulheres não conseguirão dizer com certeza absoluta aquilo que querem e esperam de um homem. Ao homem actual restará apenas a solução de ser quase perfeito, de ser cavalheiro, mas respeitar a independência das mulheres, de ser sensível para entender as fraquezas humanas, mas forte para arrebatar paixões, de ser, enfim, aquilo que as mulheres querem que eles sejam a determinada hora, consoante o seu estado de alma, porque de outra forma não conseguem espalhar a sua semente, razão básica pela qual eles se encontram aqui. Vendo bem, essa razão será a única, porque em tudo o resto elas já substituem os homens, perfilhando até algumas das características que mais repudiavam, emulando os seus hábitos e, é claro, as suas consequências.
Recapitulando, se o homem morria mais cedo porque era ele que se expunha aos riscos da caça, da luta, da alimentação desregrada e dos hábitos de vida mais prejudiciais e a mulher subsistia durante mais tempo devido ao seu papel educador das gerações mais novas e à sua poupança nos malefícios da vida, agora já não é assim, havendo uma mitigação nas esperanças médias de vida, as quais, por sua vez, também se inverterão totalmente. Mas é claro que isto demora tempo. Ambos os sexos estão a aprender a lidar com esta nova situação e não é algo que mude de um dia para o outro, mas apenas e só uma tendência que se nota. Provavelmente, será de todo impossível almejar a uma sociedade igualitária, não ao nível dos direitos, mas dos poderes de interacção entre os sexos; a um paradigma de domínio do homem seguir-se-á um paradigma de domínio da mulher, depois do homem, da mulher e assim sucessivamente.
Claro que esta avaliação generalista, que vê os sexos como corporação, carece de absolutismos, até porque qualquer lei social tem de ter em conta as especificidades dos indivíduos, mas há comportamentos sociais universais que facilmente se podem identificar.  Haverá sempre lugar para as excepções nos homens, como também as houve e ainda há para as mulheres. Da mesma forma que ainda existem homens à antiga, também existem mulheres à antiga e para esses a convivência até é facilitada devido à definição pré-estabelecida do papel de cada um, pois como algumas correntes da Sociologia nos dizem (nomeadamente as que decorreram da Escola de Chicago) todas as relações são relações de poder e as relações nas quais a hierarquia de poder está mais bem definida são as que menos conflitos geram. Se isso é bom ou mau é que ninguém sabe.
Convém também salientar que nada do que é dito aqui visa branquear as desigualdades baseadas no género que ainda subsistem, constituindo-se apenas como um exercício pessoal de análise subjectiva de um fenómeno que, verificável ou não, está latente numa sociedade indiscutivelmente mais femininista e por isso também mais feminina. 
Por isso, nós, enquanto homens, não temos de nos preocupar, apenas temos de nos conformar em que nos escolham, em sermos o melhor possível para o papel que nos reserva e se aceitarmos esse papel até seremos bem sucedidos nas relações, com a noção de que caminhamos para uma sociedade pior (no sentido da perda do domínio), mas que ainda tardará. Não é, mais uma vez, uma mudança revolucionária e apenas uns indícios se assumem. Contudo, olhando à volta e também para dentro, já vejo aí muitos homens e mulheres a agirem de acordo com o que aqui está escrito.


(João Freire)

Reaproveitado para o tema de Janeiro de 2011, Preconceito, num desafio da "Fábrica de Letras"

9 comentários:

OlhaRes IndisCretos disse...

Preferia que as relações entre homem e mulher, entre crianças e adultos, entre pretos e brancos não fossem analisadas de acordo com quem detém o poder ou não, mas é a sociedade em que vivemos e só desta maneira nos podemos, se calhar, distinguir dos outros.
As diferenças de relacionamento entre os homens e as mulheres, o que os primeiros e as segundas desejam não é assim tão diferente, o problem é que queremos, muitas vezes, o mesmo e, se assim se realizasse, o mundo era capaz de tombar...
Em vez de esperarmos sentados que se estabeleça alguma semelhança (ainda que diferente), deveríamos tentar nos simples pormenores da vida tentar compreender e aceitar o "outro", sem cair no exagero claro, porque tudo o que é demais...
No geral, boa explanação e abordagem de ideias e bastantes boas imagens, algumas delas fizeram-me mesmo lembrar velhos tempos.

Frozen

Johnny disse...

Parecem dois sociólogos a discutir razoavelmente um assunto.

Lala disse...

"A guerra dos sexos".

Johnny disse...

Lala, e esta ainda é mais perigosa que a dos Mundos... os extraterrestres são mais feios e maus :)

Briseis disse...

Puxa... Isto é uma tese...!
É muito interessante pensar nisto... Não sei é até que ponto essa ou qualquer outra reflexão poderá levar a uma conclusão... É um domínio um bocadinho pantanoso!
...e gostei muito das imagens!

Johnny disse...

B, não tem de haver uma conclusão... vamos nós fazendo as nossas próprias e pequenas concluões :)

JoeFather disse...

O excelente texto retrata uma verdade: o papel das mulheres mudou no desenrolar dos anos!

É claro que ainda existem aqueles que pela força querem manter o domínio de séculos, chegando a extremos para mantê-lo, se não nesse mundo, no dos mortos...

Eu, por minha vez, sempre fui uma pessoa que busca o equilíbrio e, portanto, para mim foi mais fácil de me adaptar a essa nova realidade, pois nunca subjuguei uma mulher, sempre a tive com o mesmo carinho na minha mesma esfera, no meu mesmo patamar, igual a mim...

Parabéns pelo belíssimo artigo que nos trás! Recomendo-o!

Abraços renovados!

Johnny disse...

Joe Father, mas o equilíbrio também é difícil. acho que fica bem a toda a gente procurá-lo, por vezes andamos todos lá perto, mas é mais difícil o equilíbrio do que o desequilíbrio.

Obrigado e abraço.

Anónimo disse...

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